Dario Franco
Ninguém quer envelhecer. Nem morrer. É uma tragédia o
envelhecimento.
Fiz projetos muito secretos para a minha velhice. Deixei-os
inéditos. Ainda bem! Revelo agora que para a dor estampada na face dos velhos, por
exemplo, eu muito jovem, tinha projetado
um sorriso constante, como o dos adolescentes que, mesmo tristes, são belos.
Agora sei que aquela dor está em cada célula do corpo que decai. Não há lado de
dentro nem de fora, nem o desabamento da vida permite a minha intervenção no
sentido de sustentá-la.
Do cérebro ainda me saem sorrisos, mas chegam
transformados no semblante impiedosamente desfigurado. Os rictos da minha face envelhecida
moldam a tristeza excêntrica que eu não tenho nem a queria me identificando.
Narciso
não se apaixonaria se se visse assim naquela mesma fonte que Ovídio me
descreveu “Fonte sem limo, pura prata em ondas límpidas jorrava.”
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